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sábado, 10 de janeiro de 2015

POLÍTICA, ECONOMIA e…FINANÇAS


Major-General Luís Sequeira

 “Ter bons olhos não é ver a montanha…
 Ter bons olhos é ver o que está por detrás da montanha!”
 (Provérbio chinês)

1. Os descobrimentos marítimos (séculos XV e XVI) e o 25 de Abril (1974) são os acontecimentos históricos de que os portugueses mais se orgulham, como conclui o estudo de opinião “ Percepção sobre a União dos Portugueses”, publicado em 2014.
Efectivamente, no que nos é mais próximo, terminada a guerra colonial, aprovada a Constituição da República e estabilizadas as Instituições Democráticas, os portugueses escolheram, em eleições livres, o espaço europeu como modelo político e económico.
Portugal passou a fazer parte da União Europeia, na expectativa de que o novo percurso a realizar permitisse alcançar os níveis de desenvolvimento anunciados, cabendo à governação estabelecer uma estratégia, definir as prioridades e tomar as decisões necessárias.
O paradigma passou a ser o desenvolvimento, que se desejou sustentável e criador de riqueza para o nosso país.
Foi o período das grandes transformações, dos fundos estruturais e do progresso tecnológico.
Os aspectos mais relevantes verificaram-se na educação e na saúde, áreas onde Portugal teve progressos notáveis, passando a ser referência internacional em alguns sectores.
Antes da entrada no Euro, Portugal era já um país moderno e os indicadores de desenvolvimento humano registaram progressos acentuados em pouco mais de duas décadas.

2. Na viragem do século, Portugal, embalado pela União Europeia, submete-se à sua política económica e monetária, não avalia os efeitos do deslocamento do centro de gravidade das decisões para os países da Europa Central e resigna-se a uma posição de completa dependência externa.
Como país economicamente enfraquecido, com a agricultura, as pescas, a indústria e a tecnologia desmanteladas, é financeiramente dominado e fica à mercê dos novos credores.
Sem estratégia, sem economia sustentável, sem audácia e, sobretudo, sem estadistas, passa a ser dirigido pelas instituições europeias, em condições politicamente inaceitáveis.
Hoje, como resultado dessas políticas erráticas e submissas, Portugal é aculturado, perde soberania, e é desonrado nos seus valores tradicionais.
Os dirigentes nacionais perdem autonomia, ignoram a realidade do país, esquecem os compromissos assumidos com os eleitores e passam a obedecer aos normativos emanados através dos funcionários europeus.
Os resultados são evidentes:
Mais de metade dos jovens portugueses passam a viver abaixo do limiar da pobreza, o desemprego atinge o valor mais alto desde o 25 de Abril de 1974, os mais velhos são marginalizados e esbulhados dos seus rendimentos ou pensões, o trabalho é desvalorizado, aumentam as desigualdades e a injustiça social, os
sistemas de saúde e de educação começam a ser abalados, o endividamento cresce exponencialmente, o património público é delapidado, a corrupção alastra, a impunidade campeia, o medo regressa àqueles que sentem o seu emprego em risco, a dignidade humana é desrespeitada e as pessoas começam a perder a esperança no futuro.
O Estado, assente em pilares fundamentais como a Administração Pública e as Forças Armadas, é capturado por uma burocracia paralisante e vê-se atingido na sua credibilidade por situações graves de incompetência, de nepotismo e de corrupção.

3. A luta entre o bem e o mal é uma constante na história da humanidade, assim como na economia é permanente o confronto entre a boa e a má moeda, dualidade que separa os comportamentos agregadores ou desagregadores e, por consequência, as opções tomadas em favor ou contra o interesse dos cidadãos,
sujeito único de coesão nacional.
Em democracia tem especial relevância o conceito de serviço público, devendo cada dirigente colocar, acima do interesse próprio, a obrigação de respeitar a Constituição da República, cumprir e fazer cumprir as leis e ter uma conduta regida pelos princípios éticos e morais inerentes ao seu cargo.
Só através de uma liderança pelo exemplo é possível garantir a confiança dos cidadãos na integridade de quem governa e, particularmente, na sua Administração Pública, pilar fundamental do Estado e garante do regular funcionamento das Instituições.
Será esta a pedra de toque para se pensar em construir um futuro melhor, em que se quebre o silêncio dos indiferentes, os melhores participem nas soluções democráticas e estas sejam orientadas para o bem-estar dos cidadãos.

Lembrando Edmund Burke:

“Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados”

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