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segunda-feira, 10 de março de 2014

MORIBUNDA, ANTES DE COMPLETAR 40 ANOS


Do Capitão-de-Fragata Serafim Pinheiro

Na quarta-feira de cinzas vi um vídeo sobre o debate desse dia na Assembleia da Republica o qual me permitiu registar um golpe mortífero na Democracia desferido pelo primeiro-ministro. Não me surpreendeu o autor do golpe mas chocaram-me as circunstâncias. Fiquei assustado. No dia seguinte a tão triste e grave acontecimento tive a possibilidade de assistir a reportagens de televisões em directo mostrando milhares de guardas e polícias  a protestarem em frente do edifício da Assembleia da Republica. O número de manifestantes com semblante de revolta e o nunca visto dispositivo de segurança que foi montado, impressionaram-me ao ponto de sentir  iminência de confronto violento entre camaradas, amigos e talvez familiares.

Propositadamente deixei passar o tempo para reflectir, coleccionar impressões e observar eventuais consequências daqueles dois extraordinários acontecimentos. Ontem, voltei aos vídeos, sem emoções a alterarem sentidos e após noite de conselho resolvi escrever o que segue.

Acerca do debate  não encontro necessidade de transcrever palavras porque o que marcou a sessão parlamentar foi a consciente, errada e irascível decisão tomada pelo ministro com maiores responsabilidades no governo para interromper um debate com um silêncio. A rigidez e a falta de cor que  Passos Coelho evidenciou em dramático momento são prenuncio de uma morte, aliás confirmado na manhã seguinte pela ausência de caixa sobre tão importante assunto nos principais jornais. O fim violento de um  debate entre parlamentares, indispensável instrumento da Democracia,  feriu-a com tal gravidade que para sobreviver precisará de cuidados intensivos. Sobre a manifestação das mulheres e homens que trabalham nas Polícias e outros Serviços de Segurança, a minha apreensão é enorme porque se não houve confronto deve-se exclusivamente ao equilíbrio e sangue-frio dos organizadores do protesto e dos comandantes do dispositivo de segurança montado. Nenhum crédito resta aos políticos e governantes que não têm querido nem sabido resolver os problemas que há anos lhes são apresentados pelos guardas e polícias e não se importam de arriscar confrontos de consequências imprevisíveis.

A dinâmica dos acontecimentos referidos agravou os problemas que assombram os Portugueses e multiplicou as razões para todos os silêncios serem quebrados antes que o silêncio a todos seja imposto. Como se tanto mal não bastasse tudo piorou quando  o Presidente da Republica pede Paz  aos Portugueses  porque faltam só dois meses para terminar uma intervenção estrangeira, depois de passar mais de dois anos sem recomendar aos ministros soluções mais humanas para executarem o programa da intervenção e sem impedir  decretos violentos e de irregularidade confirmada que roeram o precioso tecido da sociedade civil.

No próximo fim de semana  a "família militar" voltará a desfilar para protestar à porta da Assembleia da República contra reformas que a empobrecem como  à maioria dos Portugueses e põem em risco a eficiência das Forcas Armadas. Os dois mais Altos Magistrados enfrentam simultaneamente problemas que só eles podem resolver e os Portugueses precisam que eles usem a coragem que lhes resta para com senso e prudência encontrarem a melhor solução. A atenção do Comandante Supremo das Forcas Armadas é devida à "família militar"  num momento em que não poderá ficar em duvida a sua  solidariedade com os seus subordinados. A atenção da Presidente da Assembleia da Republica  é indispensável para evitar  falta de proporção no dispositivo de segurança à porta da Casa da Democracia que permita sugerir guarda em funeral prematuro de quem está moribunda  no seu interior. Chá e promessas não diminuirão ofensa a quem em 1974 libertou Portugal e devolveu a voz aos Portugueses.

Quem deseja a Paz e jurou garantir a  Democracia em Portugal não pode permitir que alguém continue a exigir silêncio e paciência de quem recebe  todas as chicotadas da execução de um programa imposto pelos banqueiros da austeridade, negociantes da fome e exploradores do seu semelhante. Não pode permitir que a Democracia morra tão jovem, antes de completar 40 anos.

10 de Marco de 2014
Serafim da Silveira Pinheiro
capitão de fragata na situação militar de reforma

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