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sábado, 1 de março de 2014

AOFA - Assuntos "Sócio-Profissionais" versus "Assuntos Políticos"



Do Capitão de Mar-e-Guerra Rui Sá Leal.......

AOFA – assuntos “sócio-profissionais” vs “assuntos políticos”

Devo dizer, em primeiro lugar, que os militares em geral – e a AOFA em particular – não devem ultrapassar nas suas discussões o âmbito sócio-profissional.
Isto poderá parecer uma flagrante contradição com as posições que venho defendendo – incluindo as que assumi na reunião no passado dia 22 de Fevereiro.
Mas talvez não. Senão vejamos.
Qual é missão primeira das Forças Armadas? Respondo: defender a Pátria. Não é fiscalizar a pesca – embora a Marinha o faça – não é resgatar feridos e doentes em alto mar – embora a Força Aérea o faça – não é auxiliar os bombeiros no combate a incêndios – embora o Exército o faça. É defender a Pátria.
É este, pois, o nosso trabalho – que até jurámos levar às últimas e mais dramáticas consequências. Somos mesmo os únicos a fazê-lo. É a nossa profissão. (E julgo que ninguém duvidará disto!)
Então discutir a defesa da Pátria – desde logo analisando se ela está ou não em risco – não é para nós, militares, discutir um assunto profissional? Pois não é esta a nossa profissão?!
E a AOFA sendo, como é, uma associação de oficiais militares, deveria abster-se de discutir o principal assunto profissional que lhes diz respeito? Não seria isto um absurdo?
Centremos pois a questão: discutir a defesa da Pátria neste âmbito – e neste momento – é não só legítimo como também oportuno (e atrever-me-ia mesmo a dizer urgente). Incluindo, naturalmente a eventual tomada das posições e medidas que se julgue oportuno assumir.
Aqui (e só aqui) é que, com toda a legitimidade, poderá haver opiniões radicalmente diferentes. Desde logo, a de que a Pátria não está em perigo e que portanto não faria sentido a assunção de qualquer posição ou medida.
Isto não é “fazer política”. Isto é – e eminentemente – uma discussão no âmbito da nossa estrita profissão.
Quando a AOFA afirma ser inaceitável o desmantelamento das Forças Armadas e urgente o seu reapetrechamento, está a considerar que jamais se deveria pôr em causa um dos pilares de sustentação da soberania nacional – e não a defender simplesmente postos e condições de trabalho.
Até agora não dei conta de algum militar recalcitrar contra isto.
Porque, na realidade, não se está a “fazer política”: está-se simplesmente a tomar uma posição no rigoroso âmbito da nossa profissão.
É óbvio que a AOFA deverá (continuar a) estar atenta às questões sociais que nos flagelam, defendendo salários, pensões, promoções, o direito à saúde, etc. Com a veemência que a violência dos ataques impõe e justifica. E é igualmente inquestionável que os militares (seus sócios ou não) têm o mais que legítimo direito de assumir as posições que entenderem com o mesmo objectivo.
Mas não discutir a defesa da Pátria, sequer de ponderar se esta está ou não em perigo e, em caso afirmativo, analisar a eventual e oportuna tomada de posições (porque isto, no entender de alguns, é “fazer política”) é abdicar da mais importante questão profissional que se pode colocar a um militar.
É por isso que dou toda a razão aos defensores da tese que a AOFA se deverá restringir às questões sócio-profissionais das Forças Armadas. Como, aliás, tem feito.  
Dir-se-á que esta questão é meramente semântica, e que o que alguns designam por assuntos “sócio-profissionais” eu defino apenas como “sociais”.
Mas não. A questão de fundo é outra. Eu considero (e por certo não estarei só) que os militares e as suas associações – cada qual no seu âmbito – jamais se deverão eximir a discutir se a Pátria, e por extensão a Democracia, estão ou não em perigo. E que ambos, militares e associações, têm o dever de tomar posições – das mais comezinhas às mais graves – se da análise que fizerem elas se tornarem inevitáveis. Outros, com a mesma legitimidade de opinião que a minha, defenderão o contrário.
Felizmente que é assim. Terá, naturalmente, que se auscultar o sentimento geral e respeitar o seu sentido.
Ilha Graciosa, 26 de Fevereiro de 2014
Rui Sá Leal

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